Prepare-se você está prestes a entrar no mundo da: JOHACIA!!

SEJA BEM VINDO.

FIQUE Á VONTADE.
LEIA TUDO.
COMENTE TUDO.

SE DELICIE!

sábado, 15 de novembro de 2008

Uma menina: fantasia, uma mulher: realidade

JOHACIA OLIVEIRA



“O céu estava nublado, não tinha ninguém em casa, uma sensação estranha foi me abatendo, a janela abriu, as cortinas balançaram, o vento soprou mais forte, o telefone tocou. Ai! Ninguém do outro lado da linha, assustador. A campainha tocou, ninguém, uma carta no chão, sem remetente, destinatário: Fernanda. Abri lentamente com medo, o coração palpitando, a respiração ofegante. Alívio! Apenas três palavras escritas: Eu te quero! Mas não poderia ser : Eu te amo? Quem seria, com qual intenção alguém me mandaria uma carta anônima me querendo pra si? Seria isso bom ou ruim? Pensei na mãe, no pai, nos parentes, nos amigos e ainda estática ninguém especial me vinha a mente. Ops! Calma aê, será que teria sido Ele, mas eu só o vi uma única vez, de relance, quase imperceptível. Só podia ser ele, ele deveria ter me notado, me olhado, me querido só pra ele. Minha idade, ele, família, escola não saíam da minha cabeça. Dez anos, uma criança, nem sei o que quer dizer “te quero”. De repente Ele queira me conhecer, me ver, ser meu amigo, ou talvez ele não teve tempo de terminar a frase e não é nada disso que eu estou pensando. E se não foi ele quem mandou a carta, e se foi alguém que eu nem conheço, um estranho, um louco, um criminoso. Guardei a carta e voltei para dentro de casa.

Tudo escuro, apenas uma luz acesa, o céu ameaçava chover, ninguém chegava, cadê todo mundo?

Dormi. Na manhã seguinte levantei bem cedo, reli a carta e fixei aquelas palavras; alguém saberia me explicar. Tomei café e saí correndo para o colégio. Hora do recreio. Caramba! Cadê a carta? Esqueci, perdi, fui roubada? Não importa agora, a carta sumiu. E agora?

Às seis da tarde voltei para casa preocupadíssima, o que teria acontecido com a carta? Esperei algum comentário, uma notícia, nada. Definitivamente a carta sumiu. Quem terá achado, porque não devolvia, ela era minha, só minha, eu precisava decifrá-la
Alguém bate na porta, era minha mãe, me perguntando o motivo do isolamento no quarto. Não podia contar o real motivo, inventei alguma coisa. Me perdi em pensamentos.

Caracolis, seis horas! Atrasada de novo, desconfortei-me com meus pensamentos. “Porque nunca cresço, não me torno logo adulta, entender as coisas, palavras, pessoas, meninos?”

Cheguei na escola e dei de cara com Joana, sempre atrás dos meninos, o que queria ela com eles, por que eu sempre a via abraçando um, beijando o rosto? Ela já tem treze anos.

...Na grama o céu parecia me chamar para dentro de si, explorá-lo-ia caso chegasse até lá. Alguém se deitou ao meu lado na grama e tapou meus olhos com a mão. Uma mão áspera, comprida, era a mão de um menino. Fiquei imóvel, mil nomes se passaram pela minha cabeça. Com certeza não seria Ele, eu nunca o vi na escola, talvez estudasse em outro lugar, ou nem estudasse.

Com a outra mão alisou meus cabelos. Fiquei ali por algum tempo, até me dar conta de que era um menino que se deitara ao meu lado e nem sabia quem era, seu nome, endereço, se eu o conhecia. Saltei atônita e parece que estava sonhando, não tinha mais ninguém na grama, apenas Eu, o sol inundou meus pensamentos, brilhou mais forte, os pássaros cantaram mais alto, as flores exalaram mais perfume, minha mão estava suada. Peraí, tudo mudou em volta de mim, mas cadê Ele? Eu nem me dei conta, Ele já não estava mais, e eu nem sei quem era.

Diante do espelho algumas mudanças, algo crescia em mim, parece irritante e ao mesmo tempo fascina, minhas blusas estão apertadas. Gritei. Ninguém ouviu, meu rosto estava parecendo uma estrada, cheio de buracos. Peraí de novo, deixa eu me olhar novamente. Socorro! Alguém está deformando o meu corpo. Calma aí, ele me pertence e eu tenho todo o direito sobre ele, quem pensa que é para mudá-lo assim?

Alguns dias se passaram e tudo parecia tranqüilo. Credo! O que é isso no meu braço, parece pêlos. Parece não, são pêlos. Confusa gritei, maêêêê...
Tudo certo, agora sim, tudo explicado, em frente ao espelho eu percebi que as mudanças permaneciam, o jeito era conviver com elas.

Parabéns pra você, nessa data querida... Data? 20/06, excepcional, doze anos. O tempo está passando e com ele meu Eu também. Hein? O tempo não me comunicou nada, ele simplesmente passou, voou e agora estou eu aqui, ficando ultrapassada. Mas... Será que Ele não vai me achar melhor assim, mais velha, madura?

Mais um mês sem vê-lo, quem será Ele afinal, o que Ele faz, onde Ele mora? Quanta dúvida, o que será que está acontecendo comigo?

Não! Socorro, alguém ajuda eu estou doente, estou morrendo, me machuquei. Maêêê... Olha! È sangue, vou morrer, não quero morrer, sou muito nova.
―Calma filha, isso não é nada de mais. Você agora é uma mocinha.
―Mocinha?
―Sim. Deixou de ser criança e passou a ser uma mocinha.
―O que é ser uma mocinha?
―(risos) Significa que agora você terá de se acostumar com novos hábitos. Tipo o de usar absorvente durante alguns dias no mês. Você vai menstruar todo mês. Não é nenhum bicho de sete cabeças não.
―Sete? Não, um milhão, trocentas. AB-SOR-VEN-TE, MENS-TRU-AR, o que é isso pelo amor de Deus?

...Certo, tudo certo, melhor assim, bem explicado. Hã? Todo santo mês, liberar sangue, que horror, como as pessoas conseguem viver com isso, que Cruz!

Dia claro, domingo, praia, um bom livro, alguns amigos, Ele, alguém especial. Mergulhei fundo, bem fundo mesmo, quase me afogando em meus pensamentos lembrei: Onde estará a carta? E Ele?

Um sentimento estranho me invadiu sem pedir licença, uma euforia, um tumulto, flashes se passando pela minha mente, corro pra cama, uma tensão, um vazio na barriga, minhas mãos inquietas, passa por um canto, por outro, aperta, arranha, arrepia, o coração disparou, o ar se prendeu, a cabeça balança por um lado e por outro, as pernas se cruzam e abrem e batem, estranho, sensação atípica, mãos suadas, corpo suado, um mundo de coisas se passando no meu pensamento, um momento e... Ufa! A viagem pelo céu num momento tão convidativo se realizou... E, de volta a Terra.

O sono me derrubou sobre a cama e eu não pude resistir. Um sonho. Estou sonhando “... È Ele. Ei você, me olha, olha pra mim, ei, ei, quem é você, o que faz, mandou- me uma carta? Ei, por favor, olha pra mim, preciso saber quem é você, seu nome. Tempo perdido, Ele não me ouve, não me vê, ele não me quer! Oi, ei, sou eu, olha pra mim, não vai embora, peraí, ei, ei, porque está indo embora, calma, eu sou... Esquece ela não me ouviu, não viu, onde encontrá-la?

Apenas uma vez, uma visão, tão pouco e suficiente. Apaixonei-me.

Sonho, pesadelo, porque Ele apareceu em minha mente e não me viu ou falou comigo: “Oi, ei, sou eu, meu nome é...”

Só pude encontrá-la num outro plano, na mente, na alma, ela nem se quer me olhou, me quis.

Quinta-feira e nada interessante para se fazer, talvez um passeio, uma caminhada me distraia. Coloca saia, não, vestido, azul, amarelo, blusa, sutiã, tira, colar, bota, brinco, cadê a sandália, não, essa não, aquela, rosa, sombra, clara, lápis, escuro, arruma, penteia, pente, batom, gloss...

Nossa já é noite, comecei a me arrumar eram apenas três horas da tarde. Espera ônibus, desce, loja, veste, experimenta, peraí alguém pode me explicar o que está acontecendo? Nada cabe, que loja é essa, “Kids”, a vendedora me olhou de cima em baixo e perguntou se eu queria algo para meus irmãos. Eu não tenho irmãos. Cadê o espelho, onde está? Meu Deus! Esquece. São elas de novo, quando vão me deixar em paz, mudanças me deixem, eu quero ser feliz, não podem invadir meu corpo assim e se apossarem e mudarem tudo, e eu, minha opinião?

Saí da loja e minha cabeça começou a pensar, deve ser o excesso de mudanças, quanta conturbação.
Cheguei em casa, fui direto pro quarto, um dia, dois, três, um mês, dois, quatro, seis, oito, e... O quê?!... Chegou à hora de apagar a velinha... Um, dois, treze! Treze anos.

Na escola as meninas contam suas experiências, seus amores, beijos, selinhos, meninos, paqueras, Eles. È isso Ele, preciso achá-lo, mas como, onde?

Maê vou ao parque, volto às 20h00min.

―Mais você é muito nova, uma criança. “Vegetando”. Um, dois, quatorze, quinze, para aí, quatorze, agora sim.
―Maêê vou ao parque, volto às 20h00min.

Luzes piscando, roda girando, apostas sendo feitas, cavalinho rodando, pipocas pulando, e eu pensando: “Bem que ele poderia estar aqui, a carta aqui, o nome dele”.

Meu pingente caiu. Ei moço você pisou em cima do meu pingente, pode levantar o pé, por favor? O rapaz virou-se e... É Ele, ou melhor, é você? Meu coração “parou”, minhas mãos ficaram trêmulas, minha boca se trancou, meus olhos tomaram forma de coração, eu não me movia. Era ele sim, o meu “Ele”, estático como eu, nervoso e sem palavras como eu.
―Você é linda!
―”?”
―Qual o seu nome?
―”?”
―Você não vai dizer nada?
―”?”
―Hã?!
―Eu sempre quis te conhecer.
―Eu também.
Depois de um bom tempo ali parada, imóvel, calada, morta praticamente, eu “ressuscitei”, e fui com ele passear, conversar. Sentamos num banquinho da praça e ele tão sublime quanto lindo se aproximou de mim, eu dele e olho no olho, mão na mão, respiração sincronizada, fomos nos aproximando. “Click!”, meus lábios e o dele se encontraram, e minha boca se abriu involuntariamente e algo penetrava nela como um furacão, cabeça pro lado e pro outro, nariz com nariz, testa com testa, me senti mulher pela primeira vez, e as diferenças já me pareciam normais, e o tempo já não passava e minha sede de beijá-lo só aumentava, e algo ia mudando em mim, alguém me falava coisas lindas ao ouvido, sussurros, abraços, promessas. Nasce um amor. Eu e Ele.

Cheguei em casa maravilhada, fascinante. Mas e como era mesmo o nome dele e a carta foi ele quem escreveu? O tempo, a vontade não me deixaram perguntar, quando o verei novamente? É ele quem me quer, ou será outro?

Perdida novamente no silêncio do meu quarto, mil perguntas me vieram à tona, mas desta vez diferente, eu estava diferente, minha mente agora pensava como outra pessoa, sentimentos diferentes me possuíam.

Eu pensava nele agora como outra pessoa, Ele um homem e eu uma mulher. Um beijo e tudo mudou. Não, nada mudou, o mundo continua o mesmo, o país não cresceu mais, a cidade não evolui, o bairro não deixou de existir, tudo continuou no seu perfeito estado. Não! Eu não, não. Aquele beijo despertou em mim algo diferente, algo que eu não posso explicar, um... Hã... È... Sei lá!

Dez da manhã e eu saio para comprar o pão, de repente um grupo de meninos me olha e dá psiu. Agora mais crescida como perceber que estou entrando numa outra face do mundo, talvez a face “mocinha de ser” ou a face “Eu e Eles”. Mesmo sendo tudo novo pretendo ir de cara e corpo nesse novo tempo.

“(Pensando) Cadê ele, onde você está, porque não vem me ver, você não me quer? Eu te quero. Aparece vai, me beija de novo, fica aqui comigo, deixa eu dormir nos seus braços, diz que me ama vai, venha ser meu... Ops!”

Dez dias depois. A campainha toca, eu corro pra atender, um moço uniformizado. Flores? Lindas, vermelhas, ele me mandou um buquê de rosas maravilhoso e no cartão estava escrito é... Oi, era o telefone, alô, quem é? Uma mensagem falando de amor e dizendo que era tudo de mais perfeito que alguém podia querer.

No cartão dizia... Peraí, alguém estava me chamando, eu saí, entrei no carro, era um carro preto, lançamento, lindo, tipo Mercedes, o carro andou uns três quilômetros parou, eu desci, entrei num lugar muito belo, com muitas rosas, vinho, champanhe, chocolates e várias luzes piscando, espelhos por toda parte, até no teto.

...Primeiro eu tomei um pouco de vinho, depois chocolate, depois um beijo e outro, e um sentimento me domando, uma curiosidade, um desejo, vontade de encontrar a paz, a felicidade, carinhos, abraços, sonhos, paixão, deitei-me, senti-me outra, diferente, mudanças foram ocorrendo, tudo acontecia na velocidade da luz e ao mesmo tempo o relógio não saía do lugar, o mundo parou, a cidade se levantou e o universo todo aplaudiu meus quinze anos de pé, ali do lado dele, tudo aconteceu numa mesma noite, num só tempo, e os pássaros rangeram de prazer, assim como as velas queimavam sua chama, e num leve toque tudo se abriu e a felicidade penetrou como na primeira vez em que eu olhei pra Ele, mesmo depois de saber que ele nunca fora “Ele”, e que a carta nunca ouve remetente e quem me queria nunca me achou, porém no cartão estava escrito “Encontre-me no lugar onde o seu pensamento de criança nunca pôde chegar”.






Nenhum comentário: